terça-feira

Biohacking!



Quando começaram a surgir os primeiros computadores voltados para o consumidor final, nos Estados Unidos, houve também a criação de uma espécie de movimento em que entusiastas se encontravam para apresentar e discutir seus avanços na computação. Muitos hackers dessa época foram os responsáveis por nomes que moldam a história da informática até hoje, como é o caso da Microsoft e da Apple.
Hoje, algumas décadas depois, o ato de hackear — em seu sentido mais puro e curioso — está extrapolando os limites da informática e começa a invadir áreas científicas que, até então, estavam restritas a universidades e centros de pesquisas, principalmente pelo alto custo de seus métodos e equipamentos.
No momento, há pessoas espalhadas pelo mundo todo com foco em uma atividade, no mínimo, interessante: hackear organismos vivos. O chamado biohacking tem crescido e despertado o interesse de cada vez mais entusiastas, mas isso tem alarmado autoridades que acreditam que esse hobby pode representar uma ameaça à paz.


O que é o biohacking?

Biohacking parece assunto de ficção científica, mas já é realidade. No futuro, é muito provável que as crianças não estarão interessadas em modificar a configuração do computador, mas sim as propriedades biológicas do cãozinho da família.A ideia por trás dessa atividade é unir biologia e ética hacker, usando, para isso, conceitos da cultura “faça você mesmo” e a capacidade de aprender conceitos científicos sozinho, sem a ajuda de professores. Com isso, esses entusiastas acabam gerando pesquisas independentes e que abordam desde mudanças corporais — como a inserção de implantes magnéticos — até sequenciamento genético completo realizado em casa.

Biohacking: revolução ou ameaça à humanidade?
Que tal modificar bactérias só por diversão? (Fonte da imagem: Reprodução/NAID)


Uma característica marcante do biohacking é o fato de que ele é composto apenas por indivíduos e pequenas empresas, estando completamente longe de instituições, acompanhamento de profissionais ou regulamentação governamental. O que levou a esse movimento foi a queda de preços de equipamentos especiais e que, hoje, podem ser encontrados até mesmo no eBay.
A ideia desses “biólogos de garagem” é a de praticar ciência tanto por diversão quanto por lucro, sendo que muitos biohackers também se interessam pelo trans-humanismo, movimento que faz uso da tecnologia para contornar imperfeições do corpo humano.


Investigando a genética familiar
Desde o início, avanços no ramo da biologia foram feitos por indivíduos que simplesmente começaram a explorar o mundo ao seu redor. Os primeiros fazendeiros, por exemplo, poderiam ser considerados como biohackers, já que domesticaram animais e cruzaram plantas com o objetivo de aperfeiçoar a agricultura.
Até mesmo biólogos modernos começaram como hobistas. Gregor Mendel, o pai da Genética, era um monge austríaco que realizava seus estudos no tempo livre. Por isso, até que não é de estranhar que, hoje, há quem use parte do seu período de folga e do seu espaço em casa para realizar pesquisas semelhantes.
Biohacking: revolução ou ameaça à humanidade?O laboratório de Kay Aull fica no quarto da estudante (Fonte da imagem: Reprodução/Discover)

Uma das entusiastas mais famosas no campo do biohacking é Kay Aull, da Universidade de São Francisco. Em um pequeno laboratório construído no quarto em que Aull morava, ela começou a analisar a mutação genética relacionada à doença do pai dela, que fazia com que o corpo dele não se livrasse do excesso de ferro.
Com suas pesquisas, a estudante encontrou, em seu próprio DNA, tanto o gene problemático, que herdou do pai quanto uma versão saudável do mesmo gene, proveniente do código genético da mãe. Assim, com testes baratos e bastante empenho pessoal, Aull descobriu que, apesar de carregar a mutação genética, a doença dificilmente se desenvolverá no corpo dela.

Hackeando o iogurte

Você acha o café da manhã deprimente? Não se preocupe, pois o designer Tuur Van Balen, mais um entusiasta da biologia faça-você-mesmo, manipulou lactobacilos para que eles produzam Prozac, um famoso antidepressivo usado em todo o mundo.
Mais do que isso, Van Balen demonstra, no vídeo acima, como foi que ele conduziu o experimento, ensinando como qualquer pessoa pode hackear um iogurte facilmente.

Fazer arte com biologia
A manipulação de micro-organismos também pode possuir objetivos artísticos. É comum, por exemplo, que artistas envolvidos com o biohacking modifiquem bactérias para que elas passem a brilhar no escurou ou que cresçam seguindo um determinado caminho, para formarem uma imagem.
Um dos artistas mais famosos dessa área é Steven Kurtz, que utilizou os métodos do biohacking para construir obras de arte bastante provocadoras. Esse professor da Universidade do Estado de Nova York criou uma instalação conhecida como “Marching Plague”. Nela, bactérias inofensivas foram hackeadas para recriarem um experimento militar britânico realizado em 1952, quando o exército infectou porquinhos-da-índia com peste bubônica para ver o quão rápido ela se espalharia.

Problemas com o FBI
Um grande problema para o biohacking é o fato de que ele chama a atenção não apenas de entusiastas, mas das autoridades que acham que a prática pode oferecer perigo. Afinal, manipular microrganismos pode ser uma maneira de criar armas poderosas e que colocariam em risco a vida de todos.


Biohacking: revolução ou ameaça à humanidade?Steven Kurtz, acima, chegou a ser interrogado pelo FBI (Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)

Em 2004, o FBI e uma unidade federal de antiterrorismo invadiram a casa de Steven Kurtz. A razão? A esposa do artista, Hope Kurtz, havia falecido em casa, com problemas cardíacos. Quando os paramédicos do 911 chegaram, eles perceberam os experimentos biológicos artísticos de Kurtz. Na manhã seguinte, o artista foi obrigado a enfrentar um interrogatório de 22 horas, enquanto poderia estar arrumando o funeral de sua esposa.
Os agentes do FBI procuravam por algum indício de que as bactérias manipuladas por Kurtz poderiam ter matado Hope e, na ocasião, confiscaram até o gato do casal com medo de que o bichano estivesse sendo usado para espalhar a praga pela vizinhança. Segundo depoimento do artista para o site BBC Future, ele chegou a lamber uma placa de Petri repleta de bactérias, para provar que elas eram inofensivas.
Por mais que o FBI tenha razão em estar preocupado, vale a pena lembrar que malucos terroristas já eram capazes de manipular armas biológicas muito antes da onda do biohacking.

Biohacking no Brasil

E o Brasil também já tem sua participação marcada no movimento biohacking. Na palestra abaixo, realizada na Campus Party Recife 2012, o artista e zootecnista Edson Barrus apresentou uma série de conceitos e ideias sobre o biohacking, incluindo o projeto Cão Mulato, que pretende criar uma nova raça de cachorro.
E você, já pensou o que poderia fazer depois que aprendesse a manipular a biologia de organismos? Quais seriam seus projetos? Lembre-se de que, muitas vezes, o hacking não precisa sequer ter uma utilidade, podendo ser puramente artístico — e também de não fazer algo que irrite o FBI ou a Polícia Federal.

Fontes: BBC Future, BBC, Discover Magazine, Cohen Van Balen, Sky News, Marching Plague e http://www.tecmundo.com.br/biologia/37472-biohacking-revolucao-ou-ameaca-a-humanidade-.htm

quinta-feira

Sala de Aula: Mais Redes, Menos Paredes

Por Patrícia Gomes do site: Porvir.org


O Rio de Janeiro começa, nas próximas semanas, a experimentar um novo tipo de escola. Nada de séries, salas de aula com carteiras enfileiradas e crianças ordenadamente caminhando pelo espaço comum. A aposta para dar a 180 crianças e jovens da Rocinha uma educação mais alinhada com o século 21 é o Gente, acrônimo para Ginásio Experimental de Novas Tecnologias, na escola Municipal André Urani. O espaço, que acaba de ser totalmente reformulado para comportar a nova proposta, perdeu paredes, lousas, mesas individuais e professores tradicionais e ganhou grandes salões, tablets, “famílias”, times e mentores.
Não houve pré-seleção. Os alunos que farão parte dessa nova metodologia já são os matriculados na escola antes da reforma. Mas agora as antigas séries serão extintas e não haverá mais as salas de aula tradicionais, com espaço para 30 e poucos alunos. Em vez disso, os jovens – que estariam entre o 7o e 9o anos – serão agrupados em equipes de seis membros, chamadas de “famílias”, independentemente de sua série de origem. A formação das famílias ocorrerá em parte por afinidade, a partir da escolha dos próprios membros, e em parte a pelo diagnóstico de habilidades ao qual os alunos se submeterão no início do ano letivo.
crédito ekaterina_belova / FotoliaRio de Janeiro inaugura escola sem séries, turma e sala de aula


Essa avaliação, que ocorre assim que eles chegarem ao Gente, pretende fazer um raio-x do estado da aprendizagem de cada um, tanto do ponto de vista do conteúdo tradicional quanto das habilidades não cognitivas, como comunicação, senso crítico, autoria. Cada aluno terá um itinerário de aprendizado pessoal, que funciona como uma espécie de playlist, só que em vez de músicas, estarão os pontos que ele precisa aprender ou desenvolver. Será o jovem o responsável por escolher a forma como o conteúdo lhe será entregue – videoaulas, leituras, atividades individuais ou em grupo. Todas as semanas os alunos serão avaliados na Máquina de Testes, um programa inteligente que propõe questões de diferentes níveis de dificuldade, para garantir a evolução no conteúdo. Quando ele não chegar ao resultado esperado, o jovem receberá uma atenção individualizada.
Tal atenção é de responsabilidade do mentor da família, o professor. Cada mentor será responsável por três famílias, que reunidas serão chamadas de equipe. “O mentor deve dar uma educação mais ampla, preocupada não só com os conteúdos tradicionais, mas com higiene, com aspectos socioemocionais do aluno, com a motivação dele”, diz Rafael Parente, subsecretário de novas tecnologias educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio, explicando a mudança no papel do professor naquele contexto. Em vez de dar aula de português ou matemática, o mentor vai ajudar o aluno a encontrar a informação de que precisa para entender o conteúdo, mesmo que o assunto não seja o da sua formação.
crédito DivulgaçãoIlustrações de como será o Gente, na Rocinha


Assim, explica Parente, se um professor de língua portuguesa precisar explicar um assunto mais específico de matemática, ele deve pedir ajuda para membros da família, se sentar com o aluno para assistir à videoaula da Educopedia com ele, tentar aprender junto. “O professor não vai ser mais aquele que transmite o conhecimento. Ele vai ser especialista na arte de aprender”, diz o subsecretário. O grupo de mentores que fará parte do Gente foi treinado para essa nova forma de lecionar.
Todos os dias, ao chegarem à escola, os alunos passarão por um momento de acolhida, em que compartilharão com seus pares experiências e expectativas para o dia. A jornada na escola é integral. Neste tempo, com o auxílio de seu itinerário e a liderança do tutor, cada um deverá decidir o que e em que ordem estudar e poderá, à livre escolha, se juntar a grupos de estudo de língua estrangeira, robótica, esportes, artes, desenvolvimento de blogs. É nesse momento que uma pergunta inevitável aparece: mas se o aluno não quiser fazer nada, ele não vai fazer nada, certo? Mais ou menos. Os mentores, explica Parente, estarão sempre por perto para motivar os alunos a avançarem, as avaliações mostrarão quem está ficando para trás e os integrantes da família – o tal grupo de seis – também deve incentivar uns aos outros. “Quando o aluno é protagonista do próprio aprendizado, faz suas escolhas, ele se envolve mais, se empolga mais com a escola.”
A tecnologia é outro fator importante na forma como o projeto foi organizado. Para que os alunos possam escolher entre ambiente virtual ou presencial, era preciso que todos os alunos tivessem acesso a equipamentos e internet. Por isso, cada aluno terá o seu tablet ou netbook e, quando for pedagigocamente justificável, vai poder levá-lo para casa. Todas as dependências do André Urani terão internet sem fio de alta velocidade.

Universo.mobi

               

por Vinícius Bopprê do site: Porvir.org



Se você não é uma daquelas pessoas que fica com os olhos vidrados no celular, navegando nas redes sociais ou jogando, certamente conhece alguém assim. Já deve ter ouvido histórias de aplicativos que em poucos dias alcançaram milhões de usuários e pode ter se questionado: será que é difícil fazer um aplicativo? O site Universo.mobi permite que qualquer pessoa crie o seu próprio app em poucos minutos, de maneira simples e intuitiva. Com mais de 30 mil ferramentas criadas em seu primeiro ano, essa “fábrica de apps” já rodou o mundo e chega a registrar, em um dia, mais de 100 novos aplicativos. “Nossa principal missão é incluir, permitir quem não tem acesso à criação de aplicativo possa construí-lo de forma gratuita. Assim, a manicure, o massagista, qualquer pessoa pode desenvolver seu app”, diz Gregório Marin, cofundador da Universo.mobi.
Com o foco direcionado para os microempreendedores, que podem fazer a propaganda do seu negócio por meio das redes sociais, criar galerias de fotos ou vídeos e outros serviços, a Universo.mobi pode ser usada para criar apps com as mais distintas finalidades. O Doa Zezinho, por exemplo, é um app que direciona os valores de tributos das notas fiscais em doações para A Casa do Zezinho e o Via Certa Natal Trânsito traz notícias em tempo real de Natal e da Região Metropolitana. Tem até professor da USP entrando na brincadeira.
crédito John Lee / Fotolia.com

O app Patologia Geral foi desenvolvido por Luiz Fernando Ferraz da Silva, que leciona Patologia na Universidade de Medicina da USP. Nele, seus alunos têm acesso ao conteúdo da disciplina, toda a agenda de provas, além de poder acessar vídeos no YouTube e até mesmo compartilhar conhecimento via rede social. “O app tem ajudado os alunos o acesso a três importantes conteúdos das aulas: a agenda do curso, a apresentação da aula em PDF e o link direto ao canal da disciplina no YouTube com os vídeos das aulas”.
A iniciativa de Silva é comemorada pelos fundadores, que veem muito potencial no uso da ferramenta para fins educacionais. “O celular não deveria ser proibido na sala de aula. Ele pode ser usado como meio de pesquisa, onde o aluno pode encontrar um artigo ou um vídeo”, diz Marin. Sobre o desafio de inserir o app em sua prática, Silva, mais conhecido como Burns, pode afirmar que os alunos receberam bem a iniciativa, apesar de ainda estarem se acostumando com ela. O professor aplicou um questionário e cerca de 80% dos alunos consideraram a ideia útil, mas apenas 32% relataram fazer uso frequente da plataforma móvel. “O impacto específico em aprendizado ainda é difícil de mensurar, mas a avaliação do curso melhorou após a introdução das plataformas digitais, site + app”, disse ele.

Planos

A Universo.mobi disponibiliza três tipos de serviço para criação dos apps: o gratuito, em que basta acessar o site e desenvolver o aplicativo que, depois de criado, levará a logo da empresa no rodapé; o segundo, chamado de Sem Banner, em que o app desenvolvido não terá o nome da plataforma e custará R$ 9,90 por mês; e, por último, o Plano Pro, que vai auxiliar o usuário a colocar seu app à venda nas lojas, seja da AppleStore ou o PlayStore, do sistema Android do Google.
Durante a entrevista, o cofundador Guilherme Santa Rosa exibiu os aplicativos criados nas últimas horas. Dentre eles, apps espalhados por todo o Brasil e até um em árabe. “A gente adora ver esses exemplos”, disse ele. Já Marin até se diz feliz com os atuais resultados, mas afirma esperar quadruplicar esse número em breve. “Queremos chegar a 144 mil pessoas, porque é um número que vai nos dar a escala que esperamos”, disse ele, animado.

Água: Espelho da Vida





            Tales de Mileto dizia: “tudo é água”.

            Para Tales, essa substância, a physis, seria a água, e todos os seres existentes seriam, essencialmente, produtos da transformação da água ou água transformada.

            Segundo Nietzsche, em Tales, o pensamento salta das constatações para a abrangência do espírito, em que a grandeza do olhar conceitual define a filosofia como audácia do pensamento. A água de Tales não passa de uma metáfora para comunicar o “pressentimento da solução última das coisas” e “o acanhamento dos graus inferiores do conhecimento”.

            Já, para Hegel, Tales celebra a descoberta da unidade do ser e a unidade do pensamento: “só há um universal, o universal ser em si e para si, a intuição simples e sem fantasia, o pensamento de que apenas um é”. Na verdade, Hegel lê na proposição “tudo é água” o significado “tudo é um”. Por isso a frase é filosófica, isto é, progresso em relação à dispersão do pensamento mítico ou da percepção sensível que vêem o mundo como uma multidão de coisas diferentes, longe de qualquer unidade. Por outro lado, Tales não teria razão em escolher a água como o universal, uma vez que ela é evidentemente uma coisa singular: “aqui está a falha - aponta Hegel; aquilo que deve ser verdadeiro princípio não precisa ter uma forma unilateral e singular”.

            Em suma, até a filosofia, ao interpretar a frase de Tales, empenha-se no elogio do pensamento racional presente no “tudo é”, e acaba geralmente por desconsiderar a água enquanto tal. Mas o desafio da frase consiste no predicado “água”. Ao invés de celebrar na primeira frase filosófica o que caracteriza a filosofia enquanto filosofia - a atividade autônoma do pensar -, talvez devamos procurar compreender a água enquanto água.


Natureza e Pensamento Humano

            Michel Serres: “Nossa cultura tem horror do mundo (...) A terra, as águas, o clima, o mundo silencioso, as coisas tácitas colocadas outrora como cenário em torno das representações comuns, tudo isso que jamais interessou a alguém, brutalmente, sem aviso, de agora em diante estorva as nossas tramóias. Irrompe em nossa cultura - que dela sempre formou uma idéia local e vaga, cosmética - a natureza”.


Água e a Vida

            Todos os dias lavamos os olhos, as mãos, tomamos banho, tudo isto não com a convicção de estarmos cumprindo um conjunto frio e objetivo de preceitos de higiene, mas com uma certa sensação vaga e fugidia de prazer. Esta água caseira, que sai da torneira e do chuveiro, não só nos limpa, mas também nos conforta.
            A água é essencial para a conservação da ordem doméstica, tanto na limpeza da habitação, quanto no molhar as plantas, na lavagem das roupas, no preparo dos alimentos, na condução dos dejetos corporais e outros, etc., etc.
            A água é um elemento fundamental para a garantia de nossa vida biológica, de nossa natureza exterior.
            Todo ser vivo consiste principalmente de água.
            Nosso corpo contém cerca de 65% de água. O mesmo acontece com os camundongos. Um elefante e uma espiga de milho contêm cerca de 70% de água. Um tomate contém cerca de 95% de água. Todas as funções orgânicas (digestão, circulação do sangue, respiração, excreção urinária, transpiração, etc.) exigem a renovação rápida da água contida nas células ou nos líquidos intercelulares.
            Por meio de reações químicas, o organismo converte os nutrientes em energia, ou em materiais de que precisa para crescer ou reconstituir suas partes. Essas reações químicas só podem ocorrer em uma solução aquosa.
            O meio aquoso é também necessário para os processos de reprodução da vida. O sêmen, o útero materno contêm água e o feto desenvolve-se primeiramente num meio aquoso.

            A história nos revela que em geral os homens se estabelecem onde a água é abundante - junto aos lagos e rios. As primeiras grandes civilizações surgiram nos vales de grandes rios - Vale do Nilo no Egito, Vale do Tigre/Eufrates na Mesopotâmia, Vale do Indo no Paquistão, Vale do Rio Amarelo na China. Todas essas civilizações construíram grandes sistemas de irrigação, tornaram o solo produtivo e prosperaram.

            Toda a vida urbana, toda cidade, depende de um sistema de abastecimento de água e a tarefa de abastecer de água uma cidade é gigantesca. Em primeiro lugar a água tem de ser captada dos mananciais (lagos, rios ou água do subsolo), em seguida tem de sofrer todo um processo de tratamento pelo qual é purificada e tornada apropriada ao consumo. Depois passa por um sistema de distribuição e finalmente um sistema de esgoto conduz - ou melhor, deveriam conduzir as águas servidas para estações de tratamento que as devolvem (sem tratamento) para rios ou para o mar.

            Em nossas cidades, as casas têm torneiras na cozinha e caixa de descarga na privada. A média de água gasta por pessoa, no lar, é de cerca de 250 litros por dia. Numa descarga de água no vaso sanitário, gastam-se de 10 a 12 litros. Para tomar um banho são necessários mais ou menos 120 litros, calculando um chuveiro médio com vazão de 20 litros de água por minuto. Para lavar pratos e panelas, são precisos uns 40 litros, e até 110 litros para a máquina de lavar roupa.

            A água é material mais usado pela indústria. São necessários cerca de 270 toneladas de água para fabricar um tonelada de aço, e cerca de 250 toneladas de água para produzir uma tonelada de papel. As refinarias usam cerca de 10 litros de água para refinar um litro de gasolina; para fabricar um litro de cerveja, usam-se 10 litros de água. As fábricas no Brasil usam cerca da metade da água consumida em geral no país, retirando-a de poços, rios ou lagoas.

            Que se lembre também a importância da água na produção da energia elétrica, pelas usinas hidrelétricas, e a importância dos rios e mares como meios de transporte.

            E, juntamente com os fins do século XVIII, a água passou a ser, para a nossa cultura, apenas uma expressão: H2O, ou seja: um corpo incolor, inodoro, insípido, líquido à temperatura ordinária, resultante da combinação de um volume de oxigênio e dois de hidrogênio e capaz de refratar a luz e dissolver muitos outros corpos. Depois que a água tornou-se objeto da razão científica, passou a ser um corpo entre os outros, muito importante, é certo, mas sem alma, sem sentido, uma coisa morta.


(fragmentos do texto “A Água e a Vida” de José Carlos Bruni)

segunda-feira

‘Não tem por que priorizarmos matemática’

Patrícia Gomes - www.porvir.org
Pouco mais de dez anos atrás, o pensador norte-americano Marc Prensky escreveu um artigo de quatro páginas que se tornaria um clássico entre educadores de todo o mundo. No texto “Digital Natives, Digital Immigrants”, ele cunhava os termos “nativos digitais” e “imigrantes digitais” para explicar um momento de transição da forma como as pessoas ensinam e aprendem. Os alunos, nascidos já na era da internet, têm muito mais facilidade que seus professores, que tiveram que se adaptar para transitar no mundo da tecnologia. “Nossos alunos mudaram radicalmente. Os estudantes de hoje não são mais as pessoas para as quais nosso sistema educacional foi desenhado”, dizia ele que, mais de uma década depois, parece mais certo do que nunca.
Segundo Prensky, o mundo vive um momento não só de constantes, mas de aceleradas transformações. Nesse novo contexto, em que a tecnologia está presente como uma ferramenta disponível e acessível, não faz mais sentido o conteúdo tradicional, como matemática, português, ciências e humanidades, ser o foco das preocupações. Em vez disso, é preciso repensar o currículo de forma a colocar pensamento, ação, relações humanas e conquistas efetivas no centro. As matérias tradicionais seriam, de acordo com a proposta do especialista, trabalhadas a partir dessas quatro novas dimensões.
Prensky estará amanhã em São Paulo dando palestra na Campus Party, a convite da Fundação Telefônica Vivo. Confira a entrevista que o especialista concedeu aoPorvir.
crédito boroboro / Fotolia.com

O senhor cunhou as expressões “nativos” e “imigrantes” digitais há mais de dez anos. O que mudou de lá para cá?
Tem uma piada muito legal que retrata isso. O avô fala para a neta: “Quando eu era criança, quando eu tinha a sua idade, não havia computadores ou celulares”. A menina olha para o avô e pergunta: “Como é que você acessava a internet?”
Em dez anos, as pessoas tiveram muito mais experiência com tecnologia digital. A diferença entre um nativo digital para um imigrante digital é que o nativo digital só conhece o novo contexto, não conhece o velho. Quando a gente fala de fotografias em preto e branco, telefones analógicos, parece pré-história para essas crianças. Nem todo mundo tem acesso, mas todas as crianças do mundo conhecem tecnologia, sabem que ela existe. Celulares estão em todos os lugares, mesmo em países pobres. O ambiente em que as crianças vivem hoje é muito digital e muito diferente de quando eu cresci. Tem uma piada muito legal que retrata isso. O avô fala para a neta: “Quando eu era criança, quando eu tinha a sua idade, não havia computadores ou celulares”. A menina olha para o avô e pergunta: “Como é que você acessava a internet?” Eles não conhecem o mundo sem internet.
Outra coisa que é muito diferente é o ritmo da mudança, que está muito mais veloz. E não está ficando mais rápido, está acelerando. O que a gente vê em um país como o Brasil é que metade das pessoas não têm acesso à tecnologia – estou supondo, não sei o número correto –, mas é previsível que, em poucos anos, todo mundo vá ter acesso porque vai ser muito barato e muito mais disponível do que costumava acontecer no passado.
Como ensinar as crianças neste mundo?
Exitem duas questões: uma é como ensinar essas crianças e a segunda, ainda mais importante, é o que ensinar. Como ensinar nós sabemos. Nós temos que fazer uma parceria com as crianças de forma que eles usem tecnologia, resolvam problemas, trabalhem em grupo com a orientação do professor. Apesar de nem todo mundo estar fazendo desse jeito, esse problema está resolvido.
O problema mais díficil é o que ensinar. Estou escrevendo um livro novo agora no qual eu digo para esquecermos a divisão da escola em matemática, língua, ciência, estudos sociais. Vamos dividir em pensamento, ação, relações humanas e resultados efetivos. Vamos ensinar isso para as nossas crianças no contexto do mundo digital, dentro dessas perspectivas é que elas podem aprender matemática, língua, humanidades. Todo mundo vai aprender uma coisa diferente porque cada um tem sua necessidade. Só coisas muito básicas seriam comuns a todo mundo porque o conteúdo muda muito rápido – claro, todo mundo vai aprender a ler.
crédito Divulgação

E como você vê a avaliação nessa abordagem?
Por que a gente avalia as crianças? Não é para ajudá-las, mas para conseguirmos ranqueá-las. O que a gente precisa mesmo é descobrir como as crianças estão indo e ajudá-las a ir melhor. Não é difícil avaliar se uma pessoa é boa em pensar ou não. É só conversar com essa pessoa e fazer algumas séries de perguntas em que se possa medir seu raciocínio lógico, sua criatividade, seu pensamento crítico. É só fazer perguntas. Também não é difícil avaliar as ações de uma pessoa. É mais útil saber se eu consigo pensar bem, agir bem, se relacionar bem e ter bons resultados.
Como preparar os professores para essa realidade? Em algum lugar do mundo eles já estão sendo treinados dessa forma?
Vamos ter que começar de novo nas faculdades de pedagogia. As escolas independentes serão as primeiras a testar esse modelo. Eu tenho dado palestra para essas escolas nos EUA, Austrália, escolas internacionais. Elas são mais livres, não têm que seguir o governo. O mais importante é dizer para as pessoas que a forma que estamos educando hoje não é a única forma. Eu espero que se comece uma grande conversa para repensar a educação. Não apenas para mudar um pouquinho ou fazer a educação antiga um pouco diferente, com um pouquinho de tecnologia, mas dar outra perspectiva sobre o que educação significa no mundo.
Mudando um pouco para os games, como você os vê mudando a educação?
Primeiro eu era muito positivo sobre os games. Em alguns casos eu ainda sou. Mas os games são bons para ajudar a ensinar habilidades, mas não são tão bons para ensinar conteúdo. Se fizermos os games ao redor de conteúdo, vamos precisar fazer games pequenos, cada um destinado a um aspecto do conteúdo. Ninguém fez isso ainda, eu vou tentar.
Quando você diz que vai tentar, o que você quer dizer? Conteúdo ou habilidades?
As duas coisas. Para o conteúdo atual, eu queria fazer pequenos jogos para tudo. Frações, funções quadráticas, gramática ou qualquer tema que se ensine. A criança pode treinar em um game. De ciência a humanidades, da educação infantil ao ensino médio. Sobre a segunda parte, se eu faço games para habilidades, a resposta é: claro. Você tem que fazer muitos games porque o pensamento é feito de vários fatores. Tem o pensamento crítico, o matemático, o criativo.
Em sala de aula?
A essa altura nós teremos outras formas de manter nossas crianças em um lugar seguro. As pessoas não vão precisar deixar as crianças na escola por segurança. Nós vamos descobrir a melhor forma de aprender cada coisa
Não. As pessoas podem interagir por uma rede. Se quase todas as crianças no mundo têm acesso a celular, elas são um ponto de conexão em uma rede. Elas podem aprender sendo um ponto de conexão nessa rede. Os professores ainda podem ajudar, nós ainda teremos escolas porque as crianças ainda estarão seguras na escola – nós vamos ter escola por muito tempo ainda.
Como você vê a escola de 2099?
A essa altura nós teremos outras formas de manter nossas crianças em um lugar seguro. As pessoas não vão precisar deixar as crianças na escola por segurança. Nós vamos descobrir a melhor forma de aprender cada coisa. Algumas vão ser em grupo, outras são individuais, outras em grupos menores, outras em comunidades virtuais.
Como você vê esse movimento dos Moocs e de ensino híbrido?
Isso é tudo parte de uma série de experimentos. Eu tenho visto pais ficarem desapontados ao verem seus filhos fazer parte de um experimento de educação. A resposta para isso é que não tem outra maneira. Eles precisam fazer parte de um experimento porque o mundo mudou e nós estamos aprendendo a nos adaptar
.

domingo

São Paulo: Sem Geografia, História e Ciências


Para que a escola existe? Para formar adequadamente as gerações futuras ou para preparar os estudantes para avaliações externas como Enem, Saresp, Prova Brasil, Pisa etc.? Questionam as pesquisadoras em educação Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Valéria Belletati (Instituto Federal de São Paulo), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) e Ligia Paula Couto (Universidade Estadual de Ponta Grossa).


Entre os assuntos levantados por elas, está a nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo, que pretende excluir história, geografia e ciências do do 1º ao 3º ano para ensinar melhor português e matemática. Diante desse fato, a preocupação que surge é se a função da escola estará limitada ao ensino das habilidades mínimas de leitura e escrita e de cálculo, em detrimento das “cores e os sabores das descobertas que se fazem no contínuo do seu desenvolvimento”. “O que será da nossa escola pública, então? O objetivo final será a quantificação em detrimento da qualidade?”, perguntam.



Pensares Insurgentes I



“A educação não consiste em encher um cântaro,
mas em acender um fogo”

(William Butler Yeats)

       
Duas coisas devem andar juntas
em nossa maneira de entender a educação:
a melhoria pedagógica e o compromisso social.

Há algo de errado na velha idéia

de que aulas mais ou menos bem dadas (um bom ensino) geram necessariamente boas aprendizagens.
Os próprios conceitos de ensino e aprendizagem estão submetidos a uma profunda revisão.



A educação só consegue bons resultados quando se preocupa em gerar experiências de aprendizagem, 
criatividade para construir conhecimentos

e habilidade para saber acessar fontes 
de informação sobre os mais variados assuntos.


 
São dois os analfabetismos por derrotar hoje:

o da lecto-escritura (saber ler e escrever),

o sócio-cultural (saber em que tipo de sociedade se vive, por exemplo, saber o que são mecanismos de mercado)

Toda escola incompetente em algum desses aspectos

é socialmente retrógrada.



A escola não deve ser concebida

como simples agência repassadora

de conhecimentos prontos,

mas como contexto e clima organizacional

propício à iniciação em vivências

personalizadas do aprender a aprender.

A flexibilidade é um aspecto

cada vez mais imprescindível de

um conhecimento personalizado e de

uma ética social democrática.
 
 
 
(pensamentos de Hugo Assmann)